quarta-feira, 18 de julho de 2012

Don't patronize me

bon iver | i can't make you love me

Vais crescendo, meu filho, com a difícil luz do mundo. Não foi um paraíso, que não é medida humana, o que para ti sonhei. Só quis que a terra fosse limpa, nela pudesses respirar desperto e aprender que todo homem, todo, tem direito a sê-lo inteiramente até ao fim. Terra de sol maduro, redonda terra de cavalos e maçãs, terra generosa, agora atormentada no próprio coração; terra onde teu pai e tua mãe amaram para que fosses o pulsar da vida, tornada inferno vivo onde nos vão encurralando o medo, a ambição, a estupidez, se não for demência apenas a razão; terra inocente, terra atraiçoada, em que nem sequer é já possível pousar num rio os olhos de alegria, e partilhar o pão, ou a palavra; terra onde o ódio a tanta e tão vil besta fardada é tudo o que nos resta; abutres e chacais que do saber fizeram comércio tão contrário à natureza que só crimes e crimes e crimes pariam.

Que faremos nós, filho, para que a vida seja mais que a cegueira e cobardia?

Eugénio de Andrade


Sou prisioneira de um passado que me persegue. Culpo-te a ti, sem dó nem piedade, por me teres prendido à janela. Por insistires em abrir-me o peito a cada mentira que contas. Um peito lentamente rasgado pela vida. Brindo mais uma vez ao cinismo: respiro apenas a lonjura - porque nunca me amaste e já nem a tua voz me comove. E o mais triste é ter o teu sangue - cegueira e cobardia - a correr-me nas veias. Não há cura para os abraços fingidos. E eu continuo a procurar nos outros aquilo que nunca me deste, o amor que tanto prometeste mas que deixaste fugir como a uma baforada de fumo.

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